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Falta de motorista vira grande desafio para o transporte no país e preocupa entidades e fabricantes do




Estimativa é que Brasil tem déficit de 50 mil profissionais do volante; novo conselheiro da Mercedes-Benz, Roberto Leoncini, conta que empresários deixaram de comprar veículos por falta de profissionaisADAMO BAZANI

O sonho de assumir uma boleia de caminhão ou o posto de condutor de um ônibus e cruzar o País ou então circular nas cidades parece cada vez menos presente entre os jovens.

A profissão de motorista tem despertado menos interesse das novas gerações de hoje do que das novas gerações de 20 ou 30 anos atrás.

Mas o problema não é só atrair novos motoristas. A dificuldade também é conseguir manter os atuais na profissão.

Estimativas de entidades de classe, como a CNT (Confederação Nacional do Transporte) e federações de transportadores de cargas e passageiros, chegaram a apontar que no Brasil, há um déficit que pode chegar a 50 mil profissionais do volante.

Se a situação é ruim do ponto de vista do transportador e da sociedade, que sente a carência de profissionais motivados, com amor ao que fazem e capacitados; para a indústria, os efeitos negativos desta realidade também influenciam.

O novo conselheiro da Mercedes-Benz no Brasil, Roberto Leoncini, que assume em fevereiro de 2024 o cargo após dez anos como vice-presidente de Ônibus e Caminhões, disse em entrevista coletiva, da qual o Diário do Transporteparticipou na última quarta-feira, 24 de janeiro de 2024, que o problema é grave e que um dos maiores desafios dos transportes é convencer os jovens a se interessarem pela profissão de motorista de ônibus e caminhão.

Segundo Leoncini, já houve casos de as montadoras deixarem de vender porque os transportadores precisaram de mais tempo para achar mão de obra.

“Tanto no ônibus como no caminhão ocorre falta de profissiionais. No caso de caminhão, já teve caso de o transportador ter serviço, ter uma safra boa de carga para carregar, e não comprou caminhão naquele momento porque não tinha formado ainda uma equipe de motoristas suficiente. No ônibus, também falta profissional. As compras são menos afetadas porque se tratam mais de renovações, mas há impactos na manutenção, já que nem todos os profissionais disponíveis no mercado têm a capacitação necessária, ainda mais com os novos modelos tecnológicos”

Para Leoncini, o desafio é de todos: sociedade, transportadores e também indústria.

O conselheiro diz que são vários os caminhos para deixar a profissão de motorista mais interessante, porém, o diálogo e as ações devem ser em conjunto.

Não adianta gerenciadores de transportes correrem para um lado, empresas para outro e entidades sindicais em outro diferente.

“Este é um dos assuntos que já vínhamos debatendo e, agora, como conselheiro, podemos nos aprofundar ainda mais” – disse

CAPACITAÇÃO E VALORIZAÇÃO:

É certo que o acesso mais fácil à formação superior faz com que os jovens hoje em dia prefiram profissões que antes eram mais difíceis de estarem nos planos. Mas, aparentemente apesar de ser um fator a ser considerado, não é o principal motivo deste desinteresse.

O que parece mesmo desmotivar o ingresso e a permanência é a falta de capacitação e valorização a este profissional.

E já vai uma realidade que precisa ser compreendida:

Capacitação não é só dar curso e valorização não é só salário.

Capacitar é possibilitar que o trabalhador do volante cresça como profissional, mas também como ser humano.

Assim, dos já necessários cursos e treinamentos de como dirigir melhor, deve fazer parte uma abordagem do profissional como humano: colocá-lo em atividades, cursos e ações que envolvem relacionamentos, conhecimentos gerais, como realização de viagens, de contatos com outros profissionais (até mesmo de áreas diferentes dos transportes), enfim, dar os caminhos para o trabalhador ter visões de mundo.

A sociedade não quer mais um condutor de veículo grande, mas alguém que seja um atendente: receba um passageiro com educação, saiba lidar com um conflito de trânsito, converse adequadamente com um carregador de carga.

Salário é o primeiro passo para valorização. Sem um pagamento justo, ninguém trabalha motivado.

Mas conversando com motoristas de caminhões e de ônibus é possível perceber que não é só o dinheiro a questão.

Um dos primeiros passos é o ambiente de trabalho e as relações interpessoais.

Quando ocorre um sinistro, uma batida, um roubo, uma denúncia de passageiro ou cliente de carga, por incrível que pareça, ainda em 2024, o chefe da garagem já vem com cinco pedras na mão e já culpando o profissional sem antes entender seu lado na história.

Não precisa passar pano e deixar de punir quem está errado.

Mas tudo tem de ser feito com justiça, proporcionalidade e equilíbrio.

E não basta punir. Deve-se primeiro saber se houve um erro mesmo.

Se de fato, aconteceu, entender por que ocorreu este erro.

Daí se define qual deve ser a providência.

Condições de trabalho também têm relação com valorização profissional.

Há motoristas de ônibus e caminhões que sim, em pleno ano de 2024, não contam sequer com um banheiro, um ponto de descanso, uma cama-limpa, um local para comer com higiene e tranquilidade.

Se a realidade não é adequada para quem trabalha em empresa, os autônomos então, vivem em situação de desamparo total.

Aí quem tem de intervir é a sociedade e a mão para isso é do Estado.

Mais pontos de apoio e programas de saúde para o motorista é o mínimo para o benefício de todos.

E o setor de transportes têm de trabalhar junto à sociedade a valorização da imagem do motorista profissional.

Hoje, muitos que estão nos carros, motos e bicicletas enxergam no condutor do caminhão e do ônibus um inimigo.

Além de ressaltar a importância do trabalho em si (as milhões de pessoas e toneladas de carga que estes profissionais levam todos os dias), é mostrar à sociedade que um motorista mais capacitado e mais valorizado significa eficiência para a economia e segurança nas rodovias e cidades.

As condições dos ônibus e caminhões também são valorização.

O executivo não gosta de chegar a uma mesa de trabalho suja, com o computador que não liga direito, com uma impressora que “come o papel”, com uma internet lenta.

Então, por que o motorista tem de gostar de um ônibus sujo, um caminhão com o freio ruim, um veículo que não engata a marcha?

Manutenção é o básico numa empresa.

Mas e o autônomo? Tanto se fala em incentivo para a compra de caminhões mais novos. Ok, claro que é importante. Mas e aí? Depois que compra o caminhão, tem de fazer a manutenção e, devido à tecnologia, os modelos novos têm custos maiores.

Por que não se cria um programa nacional para ajudar o autônomo a encontrar serviços de manutenção mais baratos?

Subsidiar parte do valor necessário para trocar os freios de um caminhão ou ônibus é mais barato que os custos de saúde pública, danos e perda de produtividade à sociedade que um acidente causa.

Gostar de caminhão e ônibus, muita gente gosta.

O desafio é fazer com que as pessoas gostem de trabalhar ou queiram trabalhar nestes veículos.

A lista de problemas, desafios e ações é bem maior, mas vale a pena iniciar o debate.

Fonte:Diaro do Transporte 


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