No final de semana, um dirigente do Hamas deu sinal positivo ao tratar da negociação com Israel: ‘Não há grandes problemas’ na proposta
Porto Velho, RO - Em mais uma rodada de negociações, a pressão é grande para que o Hamas aceite a proposta apresentada por Israel no último dia 13 de abril. Esta nova negociação pode representar, também, a última oportunidade evitar a ofensiva em Rafah, no sul de Gaza, onde estão refugiados 1,5 milhão de palestinos.
Depois do primeiro dia de reuniões no Cairo, na segunda-feira (29), uma delegação de Israel deveria ir hoje ao Egito. No entanto, durante a noite, o governo decidiu cancelar a viagem porque prefere aguardar a resposta por parte do Hamas. Há um otimismo cauteloso em Israel, em especial entre os familiares dos reféns, de que um acordo possa ser alcançado.
Segundo a apuração da RFI, a proposta apresentada ao Hamas envolve concessões por parte de Israel que podem incluir:
1) a permissão para que milhares de palestinos retornem para o norte de Gaza, território já amplamente sob controle do Exército israelense;
2) a possibilidade de retirada das tropas de Israel do Corredor Netzarim, uma via de cerca de oito quilômetros construída e controlada pelo Exército que se estende da fronteira do território palestino na altura do Kibutz Be’eri, em Israel, até o litoral de Gaza;
3) a libertação de 33 reféns israelenses que se enquadram na chamada categoria humanitária: mulheres, crianças, homens acima dos 50 anos de idade e doentes;
4) e a mais relevante para o contexto da guerra, a possibilidade de que Israel avalie encerrar a campanha militar no território palestino, caso o Hamas aceite libertar todos os reféns sequestrados pelo grupo.
É importante ressaltar que este último item não exclui a necessidade de que a primeira fase do acordo entre em vigor. E nesta primeira fase, que inclui a libertação dos 33 reféns israelenses, haveria um cessar-fogo de seis semanas de duração. Neste período, seria negociada a possibilidade de encerramento da guerra ou de ampliação do tempo de cessar-fogo.
Mas ainda há espaço para especulação; segundo informações obtidas pela RFI, a avaliação é que as autoridades israelenses podem considerar o cancelamento da operação terrestre em Rafah, se um acordo for alcançado durante as negociações atuais.
No entanto, uma outra fonte ouvida pela imprensa israelense diz exatamente o oposto; ou seja, Israel poderia levar adiante a incursão mesmo após o cessar-fogo temporário. Segundo esta visão, não haveria, portanto, a possibilidade de encerramento da guerra sem que o Exército alcance seus objetivos no último reduto organizado do Hamas em Gaza, Rafah.
Na Arábia Saudita, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, definiu a proposta atual como “extremamente generosa”. David Cameron, ministro das Relações Exteriores britânico, disse que a proposta prevê também a libertação de milhares de prisioneiros palestinos e declarou que espera que o Hamas aceite a oferta. Cameron também complementou dizendo que o conflito não vai terminar até a libertação de todos os reféns israelenses.
Foto: EVELYN HOCKSTEIN / POOL / AFP Blinken em Israel e a abordagem dos EUA para o Oriente Médio
O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken chega a Israel na quarta-feira (1°). É a sétima viagem do secretário norte-americano à região. Dessa vez, ele teve como primeiro destino a Arábia Saudita. Durante reunião do Fórum Econômico Mundial, em Riad, Blinken fez revelações importantes, não apenas sobre os esforços para conseguir uma trégua em Gaza, mas também sobre os planos regionais dos Estados Unidos.
Ficou claro para Washington que o Irã é um ator que ameaça diretamente seus aliados no Oriente Médio. Os ataques contra Israel executados entre os dias 13 e 14 de abril marcam uma mudança histórica no conflito mais amplo e também na percepção e no posicionamento norte-americano.
Para os EUA, tudo está de certa forma conectado; Blinken disse estar perto de finalizar as conversas com a Arábia Saudita para que o país estabeleça relações diplomáticas com Israel, a chamada “normalização”. Para isso acontecer, no entanto, Israel precisará mudar a abordagem em relação aos palestinos, o que deve provocar debates intensos entre os personagens do jogo político israelense – em especial as figuras mais extremistas da atual coalizão de governo, como os ministros Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich.
Segundo informações obtidas pela RFI, uma das possibilidades é o estabelecimento de um pacto de defesa regional incluindo Israel e as monarquias do Golfo, como Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Kuwait. Em comum a todos esses países está o temor diante do poderio militar e das ambições do Irã.
E aqui há um aspecto fundamental: a visão norte-americana considera que Israel precisa estabelecer alianças regionais de forma a fortalecer a sua posição. A ideia de normalização das relações com a Arábia Saudita é parte desta estratégia. Mesmo com críticas à forma de atuação israelense em Gaza, o presidente Joe Biden deixa claro que seu compromisso com a defesa de Israel é inabalável.
Por isso também Washington se concentra no “dia seguinte” de Israel pós-Benjamin Netanyahu; porque entende que o atual primeiro-ministro mais atrapalha do que ajuda no processo diplomático, em especial entre os países da região. E esta é uma das principais preocupações do atual governo dos Estados Unidos.
Tribunal Penal Internacional de olho em Israel
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e figuras de alto escalão de Israel se preparam para a possibilidade de o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir em breve mandados de prisão contra o próprio premiê, além de Yoav Gallant, ministro da Defesa, e Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior do Exército.
Os mandados devem ser emitidos no contexto da guerra em Gaza e em função de acusações sobre a atuação israelense no campo de batalha. O gabinete do primeiro-ministro tem trabalhado de forma incessante para tentar contornar a situação, embora até agora esses esforços não tenham produzido qualquer resultado.
No próximo dia 8 de maio, o presidente norte-americano, Joe Biden, deve receber um relatório sobre o uso de armas dos Estados Unidos por Israel durante a guerra atual.
Um documento interno do Departamento de Estado dos EUA publicado pela agência Reuters afirma que altos funcionários do governo em Washington acreditam que Israel até agora não tenha fornecido provas confiáveis de que está usando armas norte-americanas de acordo com as determinações do direito internacional. Outros funcionários norte-americanos, no entanto, expressam apoio à posição israelense.
A rede de televisão Bloomberg informou que um grupo de sete países liderados pelos Estados Unidos apelou ao TPI para que não dê prosseguimento ao processo de emissão de mandados de detenção contra altos funcionários israelenses. Isso porque esses países temem que o tribunal possa agir justamente no momento em que Israel e Hamas se aproximam de um acordo de cessar-fogo. E Washington teme que uma eventual decisão do TPI acabe por impedir o sucesso das negociações.
Fonte: Carta Capital
Porto Velho, RO - Em mais uma rodada de negociações, a pressão é grande para que o Hamas aceite a proposta apresentada por Israel no último dia 13 de abril. Esta nova negociação pode representar, também, a última oportunidade evitar a ofensiva em Rafah, no sul de Gaza, onde estão refugiados 1,5 milhão de palestinos.
Depois do primeiro dia de reuniões no Cairo, na segunda-feira (29), uma delegação de Israel deveria ir hoje ao Egito. No entanto, durante a noite, o governo decidiu cancelar a viagem porque prefere aguardar a resposta por parte do Hamas. Há um otimismo cauteloso em Israel, em especial entre os familiares dos reféns, de que um acordo possa ser alcançado.
Segundo a apuração da RFI, a proposta apresentada ao Hamas envolve concessões por parte de Israel que podem incluir:
1) a permissão para que milhares de palestinos retornem para o norte de Gaza, território já amplamente sob controle do Exército israelense;
2) a possibilidade de retirada das tropas de Israel do Corredor Netzarim, uma via de cerca de oito quilômetros construída e controlada pelo Exército que se estende da fronteira do território palestino na altura do Kibutz Be’eri, em Israel, até o litoral de Gaza;
3) a libertação de 33 reféns israelenses que se enquadram na chamada categoria humanitária: mulheres, crianças, homens acima dos 50 anos de idade e doentes;
4) e a mais relevante para o contexto da guerra, a possibilidade de que Israel avalie encerrar a campanha militar no território palestino, caso o Hamas aceite libertar todos os reféns sequestrados pelo grupo.
É importante ressaltar que este último item não exclui a necessidade de que a primeira fase do acordo entre em vigor. E nesta primeira fase, que inclui a libertação dos 33 reféns israelenses, haveria um cessar-fogo de seis semanas de duração. Neste período, seria negociada a possibilidade de encerramento da guerra ou de ampliação do tempo de cessar-fogo.
Mas ainda há espaço para especulação; segundo informações obtidas pela RFI, a avaliação é que as autoridades israelenses podem considerar o cancelamento da operação terrestre em Rafah, se um acordo for alcançado durante as negociações atuais.
No entanto, uma outra fonte ouvida pela imprensa israelense diz exatamente o oposto; ou seja, Israel poderia levar adiante a incursão mesmo após o cessar-fogo temporário. Segundo esta visão, não haveria, portanto, a possibilidade de encerramento da guerra sem que o Exército alcance seus objetivos no último reduto organizado do Hamas em Gaza, Rafah.
Na Arábia Saudita, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, definiu a proposta atual como “extremamente generosa”. David Cameron, ministro das Relações Exteriores britânico, disse que a proposta prevê também a libertação de milhares de prisioneiros palestinos e declarou que espera que o Hamas aceite a oferta. Cameron também complementou dizendo que o conflito não vai terminar até a libertação de todos os reféns israelenses.
Foto: EVELYN HOCKSTEIN / POOL / AFP Blinken em Israel e a abordagem dos EUA para o Oriente Médio
O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken chega a Israel na quarta-feira (1°). É a sétima viagem do secretário norte-americano à região. Dessa vez, ele teve como primeiro destino a Arábia Saudita. Durante reunião do Fórum Econômico Mundial, em Riad, Blinken fez revelações importantes, não apenas sobre os esforços para conseguir uma trégua em Gaza, mas também sobre os planos regionais dos Estados Unidos.
Ficou claro para Washington que o Irã é um ator que ameaça diretamente seus aliados no Oriente Médio. Os ataques contra Israel executados entre os dias 13 e 14 de abril marcam uma mudança histórica no conflito mais amplo e também na percepção e no posicionamento norte-americano.
Para os EUA, tudo está de certa forma conectado; Blinken disse estar perto de finalizar as conversas com a Arábia Saudita para que o país estabeleça relações diplomáticas com Israel, a chamada “normalização”. Para isso acontecer, no entanto, Israel precisará mudar a abordagem em relação aos palestinos, o que deve provocar debates intensos entre os personagens do jogo político israelense – em especial as figuras mais extremistas da atual coalizão de governo, como os ministros Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich.
Segundo informações obtidas pela RFI, uma das possibilidades é o estabelecimento de um pacto de defesa regional incluindo Israel e as monarquias do Golfo, como Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Kuwait. Em comum a todos esses países está o temor diante do poderio militar e das ambições do Irã.
E aqui há um aspecto fundamental: a visão norte-americana considera que Israel precisa estabelecer alianças regionais de forma a fortalecer a sua posição. A ideia de normalização das relações com a Arábia Saudita é parte desta estratégia. Mesmo com críticas à forma de atuação israelense em Gaza, o presidente Joe Biden deixa claro que seu compromisso com a defesa de Israel é inabalável.
Por isso também Washington se concentra no “dia seguinte” de Israel pós-Benjamin Netanyahu; porque entende que o atual primeiro-ministro mais atrapalha do que ajuda no processo diplomático, em especial entre os países da região. E esta é uma das principais preocupações do atual governo dos Estados Unidos.
Tribunal Penal Internacional de olho em Israel
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e figuras de alto escalão de Israel se preparam para a possibilidade de o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir em breve mandados de prisão contra o próprio premiê, além de Yoav Gallant, ministro da Defesa, e Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior do Exército.
Os mandados devem ser emitidos no contexto da guerra em Gaza e em função de acusações sobre a atuação israelense no campo de batalha. O gabinete do primeiro-ministro tem trabalhado de forma incessante para tentar contornar a situação, embora até agora esses esforços não tenham produzido qualquer resultado.
No próximo dia 8 de maio, o presidente norte-americano, Joe Biden, deve receber um relatório sobre o uso de armas dos Estados Unidos por Israel durante a guerra atual.
Um documento interno do Departamento de Estado dos EUA publicado pela agência Reuters afirma que altos funcionários do governo em Washington acreditam que Israel até agora não tenha fornecido provas confiáveis de que está usando armas norte-americanas de acordo com as determinações do direito internacional. Outros funcionários norte-americanos, no entanto, expressam apoio à posição israelense.
A rede de televisão Bloomberg informou que um grupo de sete países liderados pelos Estados Unidos apelou ao TPI para que não dê prosseguimento ao processo de emissão de mandados de detenção contra altos funcionários israelenses. Isso porque esses países temem que o tribunal possa agir justamente no momento em que Israel e Hamas se aproximam de um acordo de cessar-fogo. E Washington teme que uma eventual decisão do TPI acabe por impedir o sucesso das negociações.
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